A História da Propaganda de Medicamentos
no Brasil
“Vendendo
Saúde – A História da Propaganda de medicamentos no Brasil” é um passeio por
registros históricos carregados de um tal poder de sedução que o livro deu cor
e vida a uma saga pouco conhecida por nós brasileiros: a relação, nem sempre
harmoniosa, entre a propaganda e a saúde.
O
livro conta como um povo se formou junto com um mercado. mercado este voltado a
atrair clientes para suas fórmulas, suas práticas e suas promessas de saúde
perfeita.
E
como se trata de História, ela começa com a instalação da corte portuguesa no
Brasil. Naquele século XIX, no ano de 1851, nasce a “ancestral” da Anvisa, a
Junta Central de Higiene. Sua missão: combater a febre amarela e encampar a
briga dos médicos contra os anúncios dos curandeiros que lhes faziam concorrência.
A
Junta não foi o primeiro passo na criação do modelo brasileiro de Vigilância
Sanitária, marcado pela abertura dos portos às “nações amigas” em 1808, mas ela
tem uma atribuição a mais que suas antecessoras: conter os excessos dos
reclames que à época (assim como hoje) provocavam a insatisfação dos
profissionais de Saúde.
Se a
febre amarela e as medidas para inibir os efeitos negativos da propaganda
atual, assim como a do século XIX, continuam a mobilizar as autoridades
sanitárias, há um outro lado, muito humano, nesta relação que o livro descreve
com o encanto possível às obras literárias.
Os
produtos que tantas vezes colocaram em campos opostos os interesses da saúde e
as metas do mercado vivem também em nossas memórias, como lembranças que nos
acompanham desde a infância.
Muitas
das marcas de produtos ilustradas aqui fizeram ou fazem parte de nossa vida.
Então, me permito dizer que o “Vendendo Saúde – A História da Propaganda de
medicamentos no Brasil” é também um álbum de infâncias – sim, no plural,
infâncias.
No
texto, nos reconheceremos. fomos as crianças obrigadas a engolir os vermífugos,
os fortificantes e as poções para favorecer o aumento de peso prometido pelos
anúncios. A partir da leitura deste livro, entenderemos o porquê. Voltaremos ao
tempo dos xaropes empurrados goela a baixo, das emulsões de gosto insuportável
tomadas em jejum, não raro sob a mira ameaçadora de um chinelo de pano.
Para
as crianças, de ontem e de hoje, poderá ser um surpresa saber que propaganda de
medicamentos tomou de empréstimo o talento do escritor monteiro Lobato. Aquele
em cujo coração nasceu o Sítio do Pica- Pau Amarelo é também o pai de Jeca
Tatu, o caboclo apático, infestado por vermes, e salvo, por fim, pelo milagroso
elixir.
Até
machado de Assis, quando chamado a opinar, escreveu: “O mundo caminha para a
saúde e a riqueza universais (...) assim se explicam os debates sobre medicina
e economia e a fé crescente nos xaropes e seus derivados”.
Havia
(e há) cura para tudo nos reclames (propaganda/ publicidade), até para as
dores da alma e seus desdobramentos.
Os
anúncios já afirmaram que os remédios poderiam prevenir divórcios e suicídios.
E até se serviram das divas da beleza da década de 40 para nos converter ao hábito de consumir calmantes.
Segundo
o que prometia a propaganda, por trás
daquele rosto lindo e sereno da atriz ou
da cantora famosa estava o efeito do
tranquilizante. A suavidade daquela face
era assegurada pela fórmula.
Se
nossas mentes pudessem guardar tudo o que prometem os anúncios mostrados neste
livro, diríamos: estamos salvos. No entanto, o mundo caminha enfrentando as
mesmas doenças, os mesmos problemas de saúde. Eles não puderam cumprir o
prometido.
Do
anúncio puro e simples, as empresas
passaram a desenvolver estratégias na qual publicidade, propaganda e ações de
mercado estão articuladas para assegurar o sucesso das vendas. Táticas
sedutoras que cada vez mais mobilizam as autoridades e os profissionais
comprometidos com a saúde.
O
que se vai contar neste livro é como se
trava uma disputa de um século e meio
entre os que podem prometer saúde e os que devem prevenir os riscos a ela. Uma odisséia contada de modo atraente, para
que o leitor chegue ao ano em que escrevemos esta apresentação visitando os
bastidores de um confronto cujo
encanto lhe foi emprestado pelo
talento de quem o escreveu.
Dirceu
Raposo de mello Diretor Presidente Agência Nacional de Vigilância Sanitária -
ANVISA
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