terça-feira, 18 de novembro de 2014

VENDENDO SAÚDE




A História da Propaganda de Medicamentos no Brasil


“Vendendo Saúde – A História da Propaganda de medicamentos no Brasil” é um passeio por registros históricos carregados de um tal poder de sedução que o livro deu cor e vida a uma saga pouco conhecida por nós brasileiros: a relação, nem sempre harmoniosa, entre a propaganda e a saúde.
O livro conta como um povo se formou junto com um mercado. mercado este voltado a atrair clientes para suas fórmulas, suas práticas e suas promessas de saúde perfeita.
E como se trata de História, ela começa com a instalação da corte portuguesa no Brasil. Naquele século XIX, no ano de 1851, nasce a “ancestral” da Anvisa, a Junta Central de Higiene. Sua missão: combater a febre amarela e encampar a briga dos médicos contra os anúncios dos curandeiros que lhes faziam concorrência.
A Junta não foi o primeiro passo na criação do modelo brasileiro de Vigilância Sanitária, marcado pela abertura dos portos às “nações amigas” em 1808, mas ela tem uma atribuição a mais que suas antecessoras: conter os excessos dos reclames que à época (assim como hoje) provocavam a insatisfação dos profissionais de Saúde.
Se a febre amarela e as medidas para inibir os efeitos negativos da propaganda atual, assim como a do século XIX, continuam a mobilizar as autoridades sanitárias, há um outro lado, muito humano, nesta relação que o livro descreve com o encanto possível às obras literárias.
Os produtos que tantas vezes colocaram em campos opostos os interesses da saúde e as metas do mercado vivem também em nossas memórias, como lembranças que nos acompanham desde a infância.
Muitas das marcas de produtos ilustradas aqui fizeram ou fazem parte de nossa vida. Então, me permito dizer que o “Vendendo Saúde – A História da Propaganda de medicamentos no Brasil” é também um álbum de infâncias – sim, no plural, infâncias.
No texto, nos reconheceremos. fomos as crianças obrigadas a engolir os vermífugos, os fortificantes e as poções para favorecer o aumento de peso prometido pelos anúncios. A partir da leitura deste livro, entenderemos o porquê. Voltaremos ao tempo dos xaropes empurrados goela a baixo, das emulsões de gosto insuportável tomadas em jejum, não raro sob a mira ameaçadora de um chinelo de pano.
Para as crianças, de ontem e de hoje, poderá ser um surpresa saber que propaganda de medicamentos tomou de empréstimo o talento do escritor monteiro Lobato. Aquele em cujo coração nasceu o Sítio do Pica- Pau Amarelo é também o pai de Jeca Tatu, o caboclo apático, infestado por vermes, e salvo, por fim, pelo milagroso elixir.
Até machado de Assis, quando chamado a opinar, escreveu: “O mundo caminha para a saúde e a riqueza universais (...) assim se explicam os debates sobre medicina e economia e a fé crescente nos xaropes e seus derivados”.
Havia (e há) cura para tudo nos reclames (propaganda/ publicidade), até para as dores  da alma e seus desdobramentos.
Os anúncios já afirmaram que os remédios poderiam prevenir divórcios e suicídios. E até se serviram das divas da beleza da década de 40 para nos converter  ao hábito de consumir calmantes.
Segundo o que prometia  a propaganda, por trás daquele rosto lindo e sereno da atriz  ou da cantora famosa estava  o efeito do tranquilizante.  A suavidade daquela face era assegurada pela fórmula.
Se nossas mentes pudessem guardar tudo o que prometem os anúncios mostrados neste livro, diríamos: estamos salvos. No entanto, o mundo caminha enfrentando as mesmas doenças, os mesmos problemas de saúde. Eles não puderam cumprir o prometido.
Do anúncio puro e simples,  as empresas passaram a desenvolver estratégias na qual publicidade, propaganda e ações de mercado estão articuladas para assegurar o sucesso das vendas. Táticas sedutoras que cada vez mais mobilizam as autoridades e os profissionais comprometidos  com a saúde.
O que se vai contar neste livro  é como se trava uma disputa de  um século e meio entre os que podem prometer saúde e os que devem prevenir os riscos a ela.  Uma odisséia contada de modo atraente, para que o leitor chegue ao ano em que escrevemos esta apresentação visitando os bastidores  de um confronto cujo encanto  lhe foi emprestado pelo talento  de quem o escreveu. 
Dirceu Raposo de mello Diretor Presidente Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA

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