É uma conquista civilizatória
para o Brasil ter a imensa maioria das crianças em idade escolar com acesso às
salas de aula, merenda e recebendo de graça do governo a cada ano mais de 100
milhões de livros didáticos. Está vencida a barreira da quantidade. Agora,
chegou o momento de enfrentar um desafio mais complexo, o do aumento drástico
da qualidade da educação. Não se pode aceitar mais que os sistemas educacionais
público e privado continuem produzindo estudantes incapazes de compreender um
texto e de realizar com destreza as operações aritméticas, portais de uma vida
profissional e pessoal plena.
Nesse campo, felizmente,
depois de décadas de negligência surgem os primeiros e incipientes sinais de
que a curva da qualidade está começando a inflexionar para cima. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), indicador do MEC para
aferir o nível do ensino, deu sinais de melhora. Em 2007, a nota média das
primeiras séries do ensino fundamental foi 4,2. Em 2005, havia sido apenas 3,8.
As notas no Enem, prova aplicada pelo MEC aos estudantes do ensino médio, também
avançaram. De 37 para 51 (em uma escala de 0 a 100). Uma melhora, portanto, de
38%. Bom? Sem dúvida. Suficiente? Nem pensar. No último ranking internacional
mais respeitado, os estudantes do Brasil aparecem em situações vexaminosas – 53º lugar em matemática e
52º em ciências em uma lista de 57 países.
Para que a curva da qualidade
se mantenha em alta, uma série de condições precisa ser preenchida. Uma
reportagem da presente edição de VEJA aponta algumas delas. A mais importante
brotou de uma pesquisa encomendada pela revista ao CNT/Sensus e diz respeito ao grau de
consciência de que o ensino vai mal. Essa consciência simplesmente não existe.
A pesquisa revela que 90% dos professores se acham muito bem preparados para
dar aulas e que 89% dos pais com filhos em escolas particulares consideram que
eles estão recebendo educação adequada. A experiência internacional mostra que
a mediocridade se perpetua enquanto os pais acreditam que o sistema está uma
maravilha. Não está. É hora de acordar e cobrar.
Veja, Edição 2074, Ano 41, N.
33. Disponível em http://veja.abril.com.br/acervodigital
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